Arte postal

Correspondência com valor artístico

Valéria Peixoto de Alencar*
Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação
"Na década de 1960, correspondências trocadas entre artistas plásticos deram origem a mais uma forma de expressão da arte contemporânea: a arte postal (mail art). Nessa mesma época, Ray Johnson cria, em Nova York, nos Estados Unidos, a Correspondance Art School (Escola de Arte por Correspondência).

Em 1963, Ray Johnson escreve uma carta num envelope, usando a frente e o verso. Ele rompe, assim, com o conceito de privado e reproduz, de maneira pública, dialogando com outra pessoa, a sua aparente intimidade.

Reprodução
Selo comemorativo do ano de falecimento de Ray Johnson

mail art consistia em trocar mensagens criativas utilizando o sistema de correios. Ela surgiu como uma alternativa aos meios convencionais das exposições de arte (Bienais, Salões, etc.) e tem características próprias do período em que apareceu (dialoga, portanto, com a Guerra Fria, no contexto mundial, ou com a ditadura militar, no contexto brasileiro). Ou seja, seu objetivo era veicular informação, protesto e denúncia.

A arte postal se caracteriza por ser um meio de expressão livre, no qual envelopes, telegramas, selos ou carimbos postais são alguns dos suportes em que é possível a expressão da sensibilidade. Os artistas utilizam, principalmente, técnicas como colagens, fotografia, escrita ou pintura. A única limitação real à utilização de diferentes técnicas e suportes é a possibilidade de envio dos trabalhos pelo correio.

Nos anos 60, a arte postal foi uma forma de expressão entre artistas que se conheciam. Porém, na década de 70, todos os interessados em fazer arte já podiam participar - e, a partir de 1980, museus e universidades começaram a valorizar a arte postal.

No Brasil, a Arte Postal chegou num momento de censura, quando muitos artistas, para poderem se expressar, acabam aderindo à Arte Conceitual - e, portanto, a uma de suas formas, a Arte Postal.

Um artista brasileiro que podemos citar é o pernambucano Paulo Bruscky, que organizou, em 1975, no Recife, juntamente com Daniel Santiago e Ypiranga Filho, a 1ª Exposição Internacional de Arte Postal, fechada pela censura do regime militar.

O trabalho abaixo, por exemplo, é uma crítica mordaz à ditadura militar, quando não ocorriam eleições livres:

Reprodução
Paulo Bruscky. Título de eleitor cancelado, 1980.


Arte postal em tempos de e-mail

E hoje em dia? Quase não escrevemos ou recebemos mais cartas, não é mesmo? Então, como esse tipo de expressão artística sobreviveria no mundo da não correspondência de papel?

No final dos anos 80 o movimento de arte postal perdeu força, especialmente junto aos artistas que trabalhavam esse veículo como forma de protesto.

No entanto, nos anos 90, a arte postal iniciou seu diálogo com as novas mídias. E foi na internet que os artistas encontraram um meio privilegiado para novas experimentações, inaugurando novas poéticas, novos canais de participação, de mobilização e de divulgação da arte postal. "

Cecilia Almeida Salles


Autora:Cecilia Almeida Salles
trechos do livro Gesto inacabado
Editora Annablume, São Paulo

Caminho Tensivo
“O tecido do percurso criador é feito de relações de tensão, como se fosse sua musculatura. Polos opostos de naturezas diversas agem dialeticamente um sobre o outro, mantendo o processo de ação.” in página 62
“É a tensão entre o que se quer dizer e aquilo que se está dizendo. Esta é, na verdade, a caracterização do ato criador, em que seu sentido mais geral, que estamos, aqui sustentando, na medida em que o trabalho da criação – um percurso que exibe tendências – está inserido na continuidade do percurso. A vagueza da tendência leva ao ambiente da imprecisão relutante. O processo de criação dá-se na relação entre essa tendência  e a mobilidade do percurso que está, necessariamente, inserido no fluxo da continuidade.
Trata-se, portanto, de uma perspectiva que vê a criação como um percurso direcionado por um projeto, inserido na continuidade do processo. É a tensão entre projeto e processo, deixando aparente o ato criador como um projeto em processo. “ in página 63
Lei e possibilidade
“Poderíamos afirmar , em termos bastante gerais, qua a criação realiza-se na tensão entre limite e liberdade: liberdade significa possibilidade infinita e limite está associado a enfrentamento de leis.
O conhecimento das leis seria a verdadeira liberdade. “Músicos, arquitetos, pintores, poetas ou quaisquer outros artífices não podem ter somente suas próprias técnicas sem estudar primeiro as leis básicas das respectivas artes.” in página 63




Percepção artística

“A percepção artística, como atividade criadora da mente humana, é um dos momentos em que se percebem ações transformadoras. O filtro perceptivo vai processando o mundo em nome da criação da nova realidade que a obra de arte oferece. A lógica criativa consiste na formação de um sistema, que gera significado, a partir de características que o artista lhe concede. É a construção de mundos mágicos decorrentes de estimulação interna e externa recebidas por meio de lentes originais.
Qualquer olhar já traz consigo uma perspectiva especifica e, necessariamente, não é idêntico ao objeto observado. No instante em que apreendemos qualquer fenômeno, já o interpretamos e naquele instante vivenciamos uma determinada representação.
A natureza já mostra essa mediação: a manifestação do arco-íris não depende só do sol e da terra mas também do homem, pois o arco-íris acompanha seu espectador quando este se movimenta. Daí cada um ver um arco-íris diferente. Cada pessoa, pelo modo como se coloca entre o céu e a terra e pela atividade de sua organização perceptiva individual do mar universal de cores, destaca uma forma que corresponde ao seu próprio arco-íris.
O processo de apreensão dos fenômenos envolve, portanto, recorte, enquadramento e angulação singulares. “ in Página 90


Processo de conhecimento

“O percurso criativo pode ser observado sob a perspectiva da apreensão de conhecimento que gera. A ação do artista é levada e leva à aquisição de informações e à organização desses dados apreendidos. É, assim, estabelecido o elo entre pensamento e fazer: a reflexão está contida na práxis artística. O percurso criador deixa transparecer o conhecimento guiando o fazer, ações impregnadas de reflexões e de intenções de significado. A construção de significado envolve referência a uma tendência. A criação é sob esse ponto de vista, conhecimento obtido por meio de ação.
O processo criador revela diferentes instantes cognitivos, envolvendo gestos os mais variados para se alcançar esse conhecimento.”


Conhecendo o mundo

Nas prestações de contas que o artista faz a si mesmo, são encontrados, em anotações, índices relativos à sua percepção. É o artista exposto a informação, recolhendo e acolhendo tudo o que de algo modo, lhe atrai.

A percepção artística, como já vimos, é o instante em que o artista vai tateando o mundo com olhar sensível e singular. Sondar o mundo é uma forma de apreensão de informações, que são processadas e que ganham novas formas de organização. A percepção é, portanto, uma possibilidade de aquisição de informação e, consequentemente, de obtenção de conhecimento.
A percepção é um modo de conhecimento não-controlado no sentido de que não se dá, na maioria dos casos, de forma consciente. Quando acompanhamos processos, deparamos com artistas imersos em seu momento histórico e no clima de seu projeto poético. Observam-se recorrências e tendências perceptivas: são modos de se aproximar da diversidade de estímulos e maneiras singulares de se apoderar de informações. Um artista plástico pode retirar a cor do mundo e outro, suas curvas e retas. São diferentes formas de representação do mundo.
As informações, por vezes, são apreendidas em nome de novas realidades em criação. Há outros casos de artistas que têm o hábito de registro independentemente de construções de obras específicas. Mas a necessidade de registrar, reter ou pôr em memória alguns desses elementos apreendidos é muito comum.
O artista encontra os mais diversos meios de armazenar informações, meios esses que atuam como auxiliares no percurso de concretização da obra e nutrem o artista e a obra em criação. Diários, anotações e cadernos de artista, por exemplo, são espaços desse armazenamento. As correspondências dos artistas, algumas vezes, cumprem esse mesmo papel.
Nessas diferentes formas de registro são encontradas ideias em estado germinal, reflexões de toda a ordem, fotos ou artigos de jornal. É claro que essa lista é praticamente infinita: cada artista em cada processo poderá fornecer um novo item. De um modo geral, pode-se dizer que o artista faz provisões: recolhe, junta e acumula o que lhe parece necessário. São registros verbais, visuais ou sonoros de apropriação do mundo, ou melhor, registros na forma mais acessível naquele momento.
O artista tem maneiras singulares de se aproximar do mundo á sua volta. Os cadernos de anotação guardam, muitas vezes, as seleções feitas pela percepção, ou seja, o modo como o artista apreende e se aproxima da realidade que o envolve. “
in Páginas 122 e 122

Poema Visual : O OVO


 O OVO, do grego Simias de Rodes, três séculos antes de Cristo.





O Ovo, de Símias de Rodes, versão de José Paulo Paes

“IV Salão de Artes”

http://www.portal.fmu.br/noticias/2864/fmu-realiza-o-iv-salao-de-artes.aspx

O curso de Artes Visuais do Complexo Educacional FMU realiza o “IV Salão de Artes”, evento que tem como objetivo incentivar a produção artística dos estudantes e artistas da área. 

De acordo com o coordenador pedagógico do curso de Licenciatura em Artes Visuais da FMU, Prof. Antonio Flávio Bastos Maués, a experiência visa preparar os estudantes para o mercado artístico. “A iniciativa busca apresentar os parâmetros de avaliação de uma obra artística por meio da análise realizada por críticos, professores de artes e profissionais ligados ao segmento”.

Podem participar do Salão os estudantes de todos os cursos da Instituição. Os interessados devem enviar um CD com as imagens das obras até o dia 15 de maio para a Avenida da Liberdade, 683, aos cuidados do próprio Prof. Maués. 

O julgamento e a premiação serão realizados de 21 a 25 de maio. Já a exposição dos trabalhos ocorrerá entre os dias 1º e 15 de junho, no Prédio 7 do Campus Liberdade.
 
O “IV Salão de Artes” conta com o patrocínio da Casa do Artista, que colaborou oferecendo como premiação materiais artísticos aos vencedores. 

Clique aqui e confira o regulamento.

Leila Danziger



Leila Danziger, nomes próprios (livro de artista),
materiais usados:
gravura sobre papel
óleo de linhaça
guache
 grafite,
 48 páginas

Leila explora o fluxo do tempo
 e a permanente fragilidade da memória.

As palavras são imagens, cicatrizes, memórias...

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[Depoimento da artista no catálogo Marcas do corpo) Leila Dazinger
"Na série Nomes próprios, trabalhei meu próprio sobrenome encontrado no Livro da memória da comunidade judaico-alemã, a imensa listagem dos judeus assassinados no Holocausto. O que motivou o trabalho foi o desejo de dar materialidade a estes nomes, resgatá-los da morte anônima e serial, expressa pela repetição da palavra "verschollen" (desaparecido), à qual corresponde a maioria dos nomes. Desaparecido significa carbonizado, transformado em fumaça, disperso no ar. A série de gravuras e livros foi, portanto, a tentativa de humanizar os nomes, materializá-los, reinscrevê-los no tempo e no espaço, dar-lhes aquilo que perderam: Corpo."







Memorial descritivo


Memorial descritivo do processo criativo
 Livro de artista
O livro de artista é pensado na sua construção tanto na forma como no conteúdo.



  • As razões da escolha do tema.


  • As metáforas, os símbolos etc


  • Descrição da obra - materiais utilizados, qualidades e características dos materiais usados nos projetos dos livros de artista,  formatos...


  • Descrever o processo de construção (esboços, recortes, colagens, fotos, memórias, tipologias das palavras usadas)

referências bibliográficas - no caso de usarem textos referenciar as fontes



  • Anexar fotos.

Livros de artista

       

O livro como suporte para a criação artística. 


Os livros de artista são livros produzidos por artistas, na sua maioria para manuseio direto, assim possibilitando uma aproximação física, tatil e visual com a produção artística.

Os livros de artista são sempre edições especiais, podendo o artista fazer edição de exemplar único ou múltiplos exemplares.

Os livros de artista são espaços de criação, onde se exploram vários tipos de narrativas, são locais privilegiados para experiências plásticas, no livro de artista é possível fazer uso de várias linguagens poéticas (artes visuais, poesia, literatura ...) somando e criando interligações de tempo e espaço, tempo e movimento.

É de extrema importância o desenho das palavras, as palavras como imagens, as imagens como palavras, com igual relevância poética.





O livro de artista é criado entre linguagens, fotografia, literatura e das artes visuais.
Desenvolve um processo próprio de modo a explorar a palavra como elemento visual. O livro de artista é pensado na sua construção tanto na forma como no conteúdo.



texto de Constança Lucas

XI Bienal do Recôncavo


Inscrições Abertas para a XI Bienal do Recôncavo

Informação cultural:

Inscrições Abertas para a XI Bienal do Recôncavo

Estão abertas, até 31 de abril, as inscrições para XI Bienal do Recôncavo, evento de artes visuais do Nordeste do país. Os interessados podem se inscrever pelos Correios, no endereço Av. Salvador Pinto, 29 - São Felix - Bahia -Brasil CEP 44 360 000 ou pelo e-mailccdannemann@terra.com.br.

A Bienal do Recôncavo é a única com 22 anos de continuidade no Nordeste.Elarecebe obras inéditas de artistas brasileiros ou estrangeiros, nas modalidades de artes gráficas, desenho, escultura, fotografia, grafite, gravura, instalação, novas experiências, objeto, performance, pintura, tapeçaria e videoarte. O grande prêmio é um curso de especialização na Europa, na área de trabalho do artista premiado.

Todas as informações sobre a XI Bienal do Recôncavo podem ser vistas no sitewww.centroculturaldannemann.com.br. Neste site se encontram também as fichas de inscrição, que devem ser anexadas a um projeto contendo o currículo artístico do candidato e fotografias das obras.

Mais informações nos editais:

Livros de artista - criação coletiva

30 de março de 2012 - Livro de artista -  continuação - criação coletiva em sala de aula


6 de abril não haverá aula - é feriado.


13 de abril - Livro de artista -  continuação - criação coletiva em sala de aula , elaboração do memorial dos livros de artista.


20 de abril - Livro de artista -  continuação - criação coletiva em sala de aula , elaboração do memorial dos livros de artista.


27 de abril - Livros de artista -  término do processo de criação e apresentação dos livros em sala de aula para a classe.
 Entrega do Memorial descritivo de cada livro de artista.

Paulo Bruscky


Paulo Bruscky (Recife, PE, 1949). Vive e trabalha em Recife, PE. 

"Possui uma obra marcadamente experimental, desde o início até hoje. É pioneiro, no Brasil, na arte xerográfica e postal. Realiza filmes, vídeos e vários livros de artista, além de organizar diversas exposições coletivas de artistas envolvidos com esse tipo de trabalho; a 1ª Exposição Internacional de Arte Postal, no Recife, em 1975; e “Artedoors”, a primeira exposição internacional de arte em outdoors nessa cidade, em 1981. Em 1976 organiza, junto com Daniel Santiago, a 2ª Exposição Internacional de Arte Postal, que é fechada pelos militares brasileiros. Esse tipo de perseguição e censura vigora em toda a América Latina até 1980, quando a arte postal volta a se fortalecer, ganhando em 1981 uma sala especial na 16ª Bienal Internacional de São Paulo, na qual Paulo Bruscky é um dos expositores. Nesse ano, recebe prêmio da Fundação Guggenheim, e passa a desenvolver suas pesquisas em Nova York e em Amsterdã. O artista possui importante coleção de livros de artistas, vídeos, envios postais e filmes, além de obras de sua autoria que nunca foram expostas. Esteve no Panorama da Arte Brasileira, MAM-SP, 2001 e 2005; na 26° Bienal de São Paulo, 2004. "
livro: Palavra

Livros de artista - no Brasil


Waltercio Caldas (Rio de Janeiro, 1946)
 “utilizo livros para fazer outros livros; trato o espaço gráfico como se fosse uma espécie de abismo”. diz Waltercio Caldas

http://www.walterciocaldas.com.br/portu/comercio.asp?flg_Lingua=1&flg_Tipo=D80

http://www.itaucultural.org.br/aplicExternas/enciclopedia_IC/index.cfm?fuseaction=artistas_biografia&cd_verbete=3544&cd_idioma=28555

Tendências do livro de artista no Brasil

Tendências do livro de artista no Brasil


Annateresa Fabris
Cacilda Teixeira da Costa


informações importantes sobre o livro de artista no Brasil 


http://www.centrocultural.sp.gov.br/liv Franz Masereelros/pdfs/tendenciasdolivro. 

“as formas das letras compondo palavras e a superfície bidimensional da página — se transferem para um esquema integrador que prenuncia nova espaciotemporalidade. Seus autores agiram com base na constatação de que existe um espaço sobre o qual (ou no qual) são dispostas as letras e as palavras, e que esse espaço-página, antes apenas suporte— uma passividade, neutra e silenciosamente receptiva — poderia também dizer e significar alguma coisa, de modo muito direto. Como formularam os nossos poetas concretos: “interpenetração orgânica de tempo e espaço”.

Texto de Roberto Pontual

“É preciso que nossa inteligência se habitue a compreender sintético-ideográficamente ao invés de analítico-discursivamente”. Apollinaire

pintura e desenho


a novíssima geração

 pintura e desenho
a novíssima geração
Edição III
Abrir espaço para os novos talentos das artes plásticas de Porto Alegre é a ideia do
Museu do Trabalho com A Novíssima Geração, exposição coletiva de pintura
e desenho onde os participantes são selecionados por um júri.
 Confira o regulamento em: